Friday, November 9, 2007

+ CONHECENDO A NOSSA HISTORIA




EPISCOPADO FASCISTA

+Marcelo Pires

Diferentes e intrigantes circunstâcias histórica desencadearam o necessário surgimento de uma corrente católica independente, no Brasil dos anos 40.
Entendia Dom Carlos Duarte Costa, fundador da nova corrente católica conhecida como ICAB ou Igreja Católica Brasileira, que “a luta religiosa, ao invés de unir, cava abismos e arrasta as massas à incredulidade”. E, mesmo testificando a antiguidade dos cismas católicos ao dizer que “o micróbio do cisma da Igreja Romana trabalha, desde o momento em que saiu das catacumbas, para mergulhar entre as riquezas do Império Romano, assenhorando-se dos templos pagãos”, ainda assim, relutou o quanto pôde para que tal desfeche fôra evitado no Brasil. Dizia ele: “o movimento da ICAB não é um cisma, pois não intenta produzir rachas na Igreja, antes, procura saná-las, pois que elas já existem.”
Vários elos ou situações, entretanto, foram se formando e entrelaçando-se umas às outras, resultando no surgimento de uma nova corrente ideológica no seio da Igreja Romana, corrente essa que de alguma forma rompeu-se ao se desvincular dos grilhões do Vaticano.
Podemos ilustrar como alguns anéis dessa corrente, a ativa participação do bispo de Maura na Revolução Constitucionalista de 1932; seu prefácio no livro O Poder Soviético do Rev. Hewlett Johnson, Deão de Canterbury; suas exposições públicas ao apontar os erros científicos das Encíclicas Papais, etc, etc.
Entretanto, neste presente estudo, enfocaremo-nos em um dos seus mais importantes elos, ou seja, a denúncia pública da formação de um episcopado fascista na Igreja Católica Romana do Brasil.
Seguido a premissa de que “a tolerêrancia só não é inesgotável nos idiotas”, foi ele conduzido a uma crucial situação política com implicações religiosas.
Ou silenciava-se diante da proteção dada pela Igreja a elementos nazi-fascista infiltrados no clero brasileiro, os quais, objetivavam transformar a Nação em um pólo irradiador desses ideais; ou denunciava esse envolvimento como algo abjeto e de profunda traição à Pátria.
Se ele optasse pelo silêncio, certamente continuaria sendo um bispo admirado e obediente à hierarquia católica; ainda que, initimamente, fosse condenado por sua própria consciência cristã, como um traidor da Pátria. Se decidisse em denunciar essa nefasta proteção, no mínimo, seria rotulado como um louco, pela cúpula romana.
Seu espírito patriótico e cristão o impulsionou a abraçar e proteger o povo brasileiro. Decidiu-se, por tanto, a denunciar o envolvimento nazista-facista-falangista. Inicialmente, em caráter confidencial, através de um telegrama enviado ao Presidente Getúlio Vargas em 17 de setembro de 1942, e, posteriormente, através de várias entrevistas e debates públicos, uma vez que a Presidência da República divulgou amplamente, sem o seu consentimento prévio, o referido telegrama.
O teor dessa informação telegráfica, o qual formaria um dos anéis dessa corrente que resultaria na criação de uma Igreja Católica Nacional, resume-se a um chamamento para uma mobilização espiritual; ao invés da utilização do armamento bélico como propunha o Governo. Enfatizava-se também que no Brasil tivesse a Igreja Romana uma melhor sorte que a Igreja Francesa, a qual sofreu com a expulsão do seu clero por envolvimento com tais princípios.
Getúlio Vargas, no periodo da Guerra, só veio declarar oficialmente estar ao lado dos Aliados (EUA, URSS, França, etc), em 31 de agosto de 1942, após grande comoção pública como resultado do torpedeamento de 5 navios brasileiros no litoral entre Sergipe e Bahia, ao que parece, atacados pelas forças do Eixo (Japão, Alemanha e Itália).
Mesmo que se lançe dúvidas históricas acerca da autoria desses ataques, uma vez que aos EUA também interessava forçar o Brasil a decidir-se em favor dos Aliados contra o Eixo, fato é, que contrariamente aos ideais cristãos e patrióticos, a Igreja Romana , no Brasil, secretamente protegeu a elementos nazi-fascistas em seus claustros.
Se tais denúncias, ainda que comprovadas posteriormente, não foram suficientes para evitar com que as autoridades eclesiásticas declarassem ser o bispo de Maura um louco; por outro lado, não faltaram patriotas ilustres que o defenderam, como o escritor e cientista social Gilberto Freire, que afirmava: “Foi o bispo de Maura quem mais perto esteve dos seus deveres de bispo brasileiro nos dias dolorosos que o cristianismo atravessa e em face do hitlerismo desenbestado… Foi ele quem no Brasil falou contra o nazismo com desassombro igual ao antigo arcebispo de París…”
Evidentemente que a Igreja rebatia as denúncias do bispo, rotulando-o de comunista, agitador, nervoso, louco, etc., sendo que estes apodos também eram aspergidos a todos aqueles que o apoiaram, como é o caso do intelectual citado que, em contrapartida, respondia: “Mesmo que ao bispo de Maura faltem de todo razões – razões de qualquer espécie – para a atitude que assumiu, o problema ferido por S. Revma. existe. Existe e deve ser enfrentado vasculhando e esclarecido para o bem da Igreja e bem do Brasil e da América”
Dizia ainda o autor de Casa-Grande e Senzala: “Aí estão os fatos claros, límpidos, inrrecusáveis, para mostrar de que lado estava a razão, a honestidade, a sincera identificação com os interesses e as tradições brasileiras. Podemos ser simplesmente dois loucos, o bispo de Maura e eu. Duas criaturas sem juizo nem equilíbrio. Dois insensatos. Dois donquixotes ridículos… Mas vê-se agora, diante das informações oficiais, que os dois loucos é que primeiro falaram a verdade. Os dois loucos é que se anteciparam a bispos ilustres, mas extremamente cautos, a jornalistas brilhantes, mas excessivamente prudentes, a intelectuais eminentes, mas exageradamente sensatos, na defesa de interesses brasileiros, de tradições democráticas, de valores cristãos subterraneamente roidos por agentes nazistas ou fascistas, disfarçados em frades (…), falsos crsitãos, falsos religiosos, falsos devotos de Cristo e da Virgem nas Congregações Marianas, patifes mais ou menos refinados que se servem das vestes sagradas e de gestos séraficos para fins rasteiramente políticos. (…)Nem os indivíduos supremamente cínicos ousam mais falar na conciliação de antagonismos que se repelem tão violenta ou cruelmente como o Nazismo e o Crsitiansimo”.
Diferentes razões e circunstâncias, portanto, foram produzindo anéis que no natural processo desencadeador do inevitável “cisma” , foram intercalando-se para formar uma só corrente em torno de um único Ideal. Não resta dúvidas que a denúncia feita contra a Igreja, por esta acolher e proteger indivíduos impregnados de ideologias politicamente condenáveis e cristãmente antagônicas, como o nazismo e o fascismo, tornou-se um dos elos históricos consideráveis para a formação dessa corrente que teve como objetivo a nacionalização da Igreja Católica.
Por sua vez, é justificavel o estudo desse fator histórico como um componente desencadeador desse movimento, movimento esse, que levou um bispo romano, contrariando a hierarquia da sua própria instituição religiosa, a bravamente lançar-se para emancipar a sua Igreja das forças opressoras e perversas.
Segundo afirmação do bispo romano Dom Vicente M. Zioni, São Carlos “tinha verdadeiro pavor da palavra cisma”. Sendo assim, tomemos a definição dada a esse movimento , feita por um outro escritor da Literatura Brasileira – Monteiro Lobato, que dizia: “A velha árvore emitiu broto novo na estação própria – e por meio dele se redimirá de várias brocas que a roem”.
No período em que a Igreja deixou-se influenciar por ideais tão nefastos e desumanos, servindo–se dos seus altares sagrados, para clandestinamente esconder emissoras de rádio, facilitando assim a transmissão de informações sigilosas aos inimigos do Eixo; despontar em seu Colégio Episcopal, um virtuoso e corajoso bispo, que rompendo com toda essa corrente do mal, procurou salvaguardar o catolicismo e a soberania da sua Nação, nos faz reconchecer que neste Santo-herói , encarnava-se os mais altos valores cristãos e patrióticos.
Apesar de até aquí, termos evitado apontar o explicito envolvimento entre Hitler e o Papa Pio XII, o qual chegou a apontar Mussolini como “um exemplo de cristão a ser seguido”, não poderemos, entretanto, ignorar que o fato de São Carlos denunciar o clero nazi-fascista, originou um elo, que unido a outros, formou-se uma corrente protetora dos ideais nacionais e cristãos.
Enfim, conhecer e explorar este específico elo, é necessário e indispensável para aqueles que desejam compreender a origem dessa corrente do catolicismo chamada de ICAB, que, para resistir-se enquanto ideal católico, custou ao seu fundador a pena da excomunhão impetrada pelo conhecido Papa de Hitler. Isso, por tão somente denunciar a traição do clero à Pátria, no período da II Guerra; e por dedicar-se ao Ideal do retorno de Cristo ao coração da humanidade.

Bibliografia: Revista Luta, Jornal A Noite, Monografia – Dados Históricos, Periódicos Científicos,

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