Friday, November 9, 2007

+ ICAB E DOGMAS







A ICAB ANTE OS DOGMAS - Parte I

+ Marcelo Pires

I - INTRODUÇÃO

Antes de apontarmos os dogmas aceitos pela Igreja Brasileira (ICAB), é mister entendermos, ainda que de forma simplória, o significado desta palavra e quais as suas implicações para a Ciência, a Filosofia e a Religião.
Dogma pode significar pensar, ter uma opinião, ou ainda, parecer o melhor, haver resultado.
Aquí, procuraremos definir o que são os dogmas religiosos, quais suas diferenças em relação as doutrinas e quais as interpretações oferecidas por Dom Carlos, o Santo Fundador da ICAB, acerca deles.
Decorreremos, de forma especulativa, se São Carlos aceitava ou não aos dogmas católicos. Se os aceitava, essa aceitação ocorria sem questionamentos e em sua totalidade? Se era parcialmente, quais aqueles por ele refutados e por quê? E, com que peso, ou medida, ele empregava o termo dogma? Seria a sua interpretação a mesma imposta pela Igreja Romana?
Antes de tentarmos responder a estas questões, devemos entender que uma doutrina é um conjunto de ensinos ou instruções, concebidas e divulgadas por uma instituição religiosa.
Neste estágio, concernente ao seu valor axiológico, ela pode ser racionalmente, ou cientificamente, questionada. Ou seja, a uma doutrina, sim, se pode averiguar o seu grau de veracidade ou falsidade.
Entretanto, quando ela se sustenta em uma argumentação cabalmente definida, quer seja por uma organização religiosa ou por uma autoridade competente, fechando-se a quaisquer espécie de questionamentos e não mais aceitando réplicas, é sinal que ela já se converteu em um dogma.
No caso dos dogmas cristãos, apenas aqueles definidos nos Sete Concílios Ecumênicos, são geralmente aceitos pelas diferentes ramificações do catolicismo, como a do tipo ortodoxo, por exemplo. Já o romanismo estende essa lista a 14 Conílos e delega ao Papa, autoridade e competência para definí-los.

II – REAÇÃO ANTI-DOGMÁTICA

Se pretendemos desenvoler um juízo coerente acerca de Dom Carlos – o bispo de Maura, antes devemos destacar três importantes fatores que nos ajudam a entender a sua reação anti-dogmática:
Primeiramente, às vezes ele assinalava doutrinas tomando-as como dogmas. Isso ocorria não porque ele desconhecesse essa diferença; mas, porque ele redigia para um Revista que tinha por finalidade esclarecer às masas, e não a uma academia teológica.
Em segundo lugar, ele reagiu contrário ao reavivamento escolástico através do neo-tomismo, uma vez, que é nessa corrente que se assentam os dogmas católicos. O neo-tomismo veio influenciar grandemente a política brasileira no período da II Grande Guerra e tinha como lema uma aberta campanha contrária à democracia formal liberal.
Finalmente, ele procurou consorciar a Religião com a Ciência. Ao invés de camuflar-se atrás da palavra mistério, revestindo-a de poderes explicativos e plausíveis às verdades impostas pela Igreja, preferiu ele ensinar através da história das religiões comparadas que, por sua vez, sob uma escala evolucionista, apresentava a Religião Cristã como a mais evoluída da humanidade.
Feitas estas necessárias e prévias observações, compreenderemos com mais exatidão a reação empreendida por Dom Carlos acerca dos dogmas. Entenderemos como suas refutações apontavam para duas direções distintas.
Alguns dogmas, nele não dispertaram nenhum interesse de réplica, isso por inicialmente não promoverem nenhum prejuízo sócio-político para a humanidade, uma vez, que a esta caberia usufruir do reino de justiça e paz como preceitua a religião cristã. Mas, quando esses inocentes dogmas eram utilizados pela Igreja, como pano de fundo, para sustentar e promover uma política triunfalista, monolítica e autocrática, recebia dele total desaproação.

III – DOGMAS MARIANOS

São Carlos era um reconhecido bispo mariano, coroou N. S. Menina como patrona da ICAB e afirmava ser esse o maior legado deixado por ele, à Igreja Naional. No altar principal do seu templo destacava-se também a imagem de N.S. da Conceição.
Exatamente em 1854 foi o Papa Pio IX quem, através da bula Ineffabilis Deus, declarou solenemente o dogma da Imaculada Conceição de Maria. Este, ainda que sem fundamentação bíblica, baseava-se em algumas declarações dos Padres da Igreja.
Pois bem, além exaltar à Virgem , o que essa declaração de fato conseguiu, surrateiramente, foi exaltar por assoiação à figura do Sumo Pontífice. Por conta disso, o catolicismo ortodoxo sempre o negou.
Posteriormente, essa associação foi tão bem recapitulada por Pio XII, que a Dom Carlos não restou outra saída, senão refutá-lo categoricamente, dizendo: A Igreja Romana se assenta no absurdo de dogmas e mistérios, levantando em cima desses dogmas e desses mistérios suas colunas mestras, hoje, inaceitáveis, pela Evolução da Humanidade. O dogma da Imaculada é uma aberração do sentimento divino. Todos nós nascemos puros e imaculados, porque nossa origem está na lei etrena da natureza, crescei e multiplicai-vos.
Do ponto de vista do culto de perdulia, não houve nenhuma incoerência em Dom Carlos por ele jamais ter removido a imagem da Imaculada Conceição do seu altar, uma vez que ele mesmo esclarecia que a sua reação não era contra a Virgem; mas contra a utilização dela para fins políticos contrários à essência mesma do cristiansimo.
Um outro dogma mariano, este definido em 1950 por Pio XII no Munificentissimus Deus, foi também alvo das suas críticas. Ao definir a Assunção corpórea de Maria aos Céus, o que realmente intencionava o Sumo Pontífice, era invocar triunfalmente a sua suposta infaliblidade e o seu domínio pessoal sobre a Igreja Universal.
Essas exaltações à Maria provinham de tradições cristãs antigas; mas, sem fundamentos nas Escrituras. Pio XII, por sua vez, só veio a decreta-lo, exatamente no período em que o ditador Franco da Espanha promovia o culto à Assunção de Maria, associado à mobilização contra o Comunismo.
Por causa desses disfarçados fatores políticos, o bispo de Maura também refutou esse dogma dizendo: Nos nossos dias a Ciência deu tantos pasos à frente, progrediu tanto, que não é possível esconder à Humanidade seus erros pasados, nem a Humanidade aceita dogmas, como esse que acaba de ser proclamado: O da Assunção corpórea ao Céu de Maria. Isso é um absurdo e uma afronta ao mundo civilizado. É a Humanidade vivendo os dias da Escolástica (...) onde Tomaz de Aquino, sobre base paripatética, construiu a síntese do conjunto do saber humano, procurando dar uma explicação racional de toda e qualquer crença ou doutrina.
Ora, nesse período, a Igreja se camuflava no manto de Maria para dissiminar a sua política autocrática e anti-socialista, utilizando-se de títulos marianos, como o de Fátima, por exemplo, para através de massivas manifestações públicas, demonstrar o seu poder político. A utilização da Virgem para esses fins, o levou a afirmar: Dissemos que o dogma da Assunção corpórea ao Céu de Maria não pode ser aceito, nos nossos dias. A Ciência não permite tamanho absurdo (...). Que interesse tem Deus em conservar ao seu lado um corpo humano? (...) Não precisamos, pois, de corpos no Céu, para nos aproximarmos de Deus e adorá-lo. (...) Não vêem os católicos romanos que esse privilégio só tende a diminuir o espírito sublime de Maria?

IV – DOGMA DA INFALIBLIDADE PAPAL

Apresentamos as refutações direcionadas a esses dois dogmas marianos, entendendo ser o suficiente para que o leitor tenha uma idéia clara de como Dom Carlos lançou-se contrário a alguns outros dogmas e doutrinas de Igreja Romana, como por exemplo as doutrinas da indissolubilidade matrimonial, do celibato obrigatório, do limbo, etc, etc, que aquí não trataremos tão somente por falta de espaço.
Sem embargo, não poderemos deixar de apontar, aquele com que com mais veemência foi por ele combatido; mesmo porque, de alguma forma, este está intrissecamente relacionado com o da Imaculada Conceição de Maria. Trata-se, especificamente, do dogma da Infalibilidade Papal proclamado em 1870 por Pio IX no Cocílio Vaticano I.
Inicialmente o Papa havia lançado debate sobre o tema da Imaculada Conceição de Maria, como que preparando o terreno para posteriormente levar a cabo o seu real propósito, a dogmatização da Infalibilidade Papal. Mas, ainda nesta preparação inicial, ele tentou colocar na mesma bula da Imaculada Conceição, o Syllabus, ou index de doutrinas condenadas pela Igreja, que apenas não foi dogmatizada pela forte pressão sofrida.
O bispo de Maura agiu tão energicamente contrário a esse dogma, ainda que em um tempo tão distante da sua proclamação, pelo simples fato de ele ter percebido que Pio XII o revitalizava intensamente, buscando fortalecer a sua política monárquica contra os ideais democráticos e sociais. Diazia o antístete brasileiro: Rompí com o Vaticano, porque a razão diz a todos que tem bom senso, que não é possível um homem ser Infalível, sobretudo, quando esse homem não passa de um blasfemo, atentando contra as leis divinas e humanas.
Sua oposição ferrenha para com o dogma da Infalibilidade Papal, o levou a invocar a história da Igreja Primitiva para provar que, diante de Deus, todos os Sucessores dos Apóstolos são iguais. Era, para ele, abusiva e contrária à Palavrade Deus, a pretenção de o bispo de Roma ter galgado para si o proilégio exclusivo de competência, em matéria religiosa, e de este não permitir a intervenção de outros bispos no seu soberano pensamento. Dizia ele: O mal da Igreja Romana é fazer da autoridade papal um poder superior, na hierarquia episcopal, aos outros bispos, dando-lhes títulos e honras, digo melhor, honorificências. E mais: Não existe na história, vestígios de decretos pontifícios propriamente dogmáticos, nos primeiros 4 séculos da Igreja.
Por conseguinte, como vimos até aquí, Dom Carlos reacionou contrário à específicos dogmas. Não somente isso, procurou evitar que a ICAB caísse no mesmo erro da Igreja Romana ao proclamar dogmas sem fundamentação bíblica convicente. Esclarecia assim, o bispo brasileiro: A ICAB não define dogmas e nem admite que só nela esteja a verdade. Acha que a verdade está com todos, uma vez que todos procurem agir honestamente, não admitindo o emprego da Força, para se impor aos fiéis.

V – DOGMAS CRISTÃOS

Muito embora não seja a tradição da ICAB proclamar dogmas, o fato de ela estar fundamentada na Bíblia a faz confessar alguns. Existem aqueles que são patrimônios da Religião Crsitã e que não tem outra prova, senão a autoridade que abrange em si mesma, isso por depender da Fé na Revelação Divina.
Nesse sentido, aquí ilustraremos os Dogmas Conciliares, o Pensamento de São Paulo Apóstolo e as Palavras do próprio Jesus (tomando-as como dogmáticas) e, de como São Carlos do Brasil se posicionou ante tais verdades.
Acerca dos Dogmas Conciliares, ele tendia a aceitar apenas aqueles promulgados nos primeiros Sete Concílios Ecumênicos. Era extremamente vigilante e zeloso ao referir-se ao Credo dos Apóstolos, o qual era por ele definido como: A síntese dos dogmas cristãos essenciais. Para São Carlos, é nesta declaracão de Fé que deve estar seguramente firmada a intenção da Igreja. No caso, a intenção da ICAB.
Por isso, ao referir-se aos Concílios posteriores, principalmente aqueles que dogmatizaram doutrinas distantes de uma fundamentação bíblica precisa, ele os criticavam afirmando serem: Concílios compostos de homens na sua quase totalidade, incultos. Nessas reuniões, sempre, predominou a política clerical, a dominação temporal dos povos e a vingança dos inimigos da Igreja Romana.
Portanto, está evidente, que apesar de São Carlos refutar alguns dos dogmas romanos, em contrapartida, aceitava aqueles jenuinamente cristãos. Esses, por estarem revestidos da autoridade de si mesmos, dependiam tão somente da Fé na Revelação Divina. Também, afirmou ele, que nesses a ICAB deveria sustentar-se, tal qualmente todas as religiões cristãs. Explicava pois, Dom Carlos: O nosso Catecimo, isto é, a substância da ICAB, outra coisa não poderia ser, senão a de todas as religiões: A Revelação.
Mas, aceitar a verdade revelada, em São Carlos, não significa anular-se crítica e racionalmente, uma vez que os dogmas científicos também devem ser apreciados pela ICAB.
Revelação, aquí, também pode ser entendida como: A Revelação, no sentido científico, isto é, todo contato da alma humana com o pensamento último que existe na criação. Afirmava o bispo de Maura que: A ICAB atravessará séculos, sempre nova, porque seus dogmas são os dogmas da Ciência e não os dogmas forjados em Concílios, em geral, reunião política para manter a Humanidade na ignorância e na escravidão.
A declaração de um dogma, quase sempre, se fundamenta através de interpretações de passagens bíblicas. Entretanto, a manipulação de determinadas passagens, com fins de justificar certos enunciados dogmáticos, nem sempre justificam satisfatoriamente as declarações apresentadas. Por perceber este problema, Dom Carlos foi levado a afirmar: As Epístolas de São Paulo, na sua essência, discordam dos dogmas e ensinamentos católicos (romanos).
Entretanto, tomando as palavras do Apóstolo como dogmáticas, vejamos como o próprio São Carlos o discreve: São Paulo propagou a Palavra de Cristo, dentro de uma orientação complexa e trasncendente, inspirada em uma teologia eminentemente dogmática. (...) São Paulo procurou o senso dos mandamentos divinos no sublime esforço de uma inteligência sequiosa da verdade. (...) São Paulo via a luz, sob o aspecto divino do amor. Destarte o Evangelho era para ele coisa viva e nascente de vida maravilhosa.
Tais comentários, por si mesmos, nos revelam a quais verdades Dom Carlos aceitava como enunciados dogmáticos. Ou seja, apenas aqueles que se fundamentavam coerentemente nas Escrituras Sagradas, uma vez, que a ICAB aceita as narrações, conhecidas como Evangelhos Canônicos. Para ele, a solução de todos os problemas do Brasil está na observação exata do Evangelho e não na crendice de Papas, de dogmas absurdos, de mistérios, que não existem.
Ora, firmando-se a ICAB nos Credos Históricos da Cristandade, nada mais coerente que ela proclamar apenas as verdades Evangélicas, não os dogmas aparentemente religiosos mas em sua essência mesma, políticos. Dizia ele: Os Evangelhos, descrevendo-nos o Cristo, são páginas de profissão de fé da comunidade primitiva, de cuja vida quer viver a Igreja Brasileira. De sua leitura meditada, verifica-se o cuidado apostólico de transmitir o Cristo à prosperidade , insento de judaismo ou do paganismo. Grande é a responsabilidade da ICAB, na transmissão moral e espiritual de Cristo, desse Cristo Evangélico, deformado por homens de Concílios.
Poderemos entender, portanto, em São Carlos, como verdades de peso dogmático, apenas aquelas contidas nos Credos Históricos, nas Palavras dos escritores bíblicos e na Palavra mesma de Jesus, o único ser infalível.
Possuia ele vasta comprensão desse patrimônio dogmático herdado pelo cristiansimo, por isso mesmo, tratava de explicar a missão renovadora de Jesus, dentro de uma socieade a qual obscureceu e corrompeu as tradições humanas legadas pelo mosaismo. Sendo assim, concebendo as palavras do prórpio Jesus como verdadeiros dogmas irrefutáveis, descrevia essas mesmas palavras comentando-as assim: No reinado de Tibério, aparceu um homem, filho de Miriam, chamado o Cristo (...). Esse homem, extraordinário e todo divino, não se contentou com gemer sobre a sorte do gênero humano, pregou, dogmatizou, ensinou uma moral séria, oposta às máximas corrompidas do século. Os seus discípulos, escolhidos do povo, ensinaram aos homens o que tinham aprendido com aquele divino mestre; sábios preceitos, uma moral santa e rígida, uma doutrina misteriosa, dogmas incomparáveis.

VI – CONCLUSÃO

Finalmente, quando São Carlos assinala que a ICAB não admite dogmas, ele se refere precisamente à aqueles que não possuem uma fundamentação bíblica plausível. E, ao aceitar os dogmas científicos, estes deveriam ser tomados tão somente como uma espécie de abertura a um diálogo entre a Religião e a Ciência.
Em outras palavras, mesmo tendo a ICAB apenas os Evangelhos como a sua base fundamental, é oportuno que ela tenha como subsídios, ou meros suportes, outros tantos livros tidos como Científicos, quer os de caráter científico-religiosos, como por exemplo, O Arqueômetro ou A Grande Síntese, ou os de caráter científico-políticos como O Poder Soviético ou Progresso e Pobreza, etc.
Realmente, caberia à ICAB idealizada por Dom Carlos, ao invés de fechar-se dogmaticamente; abrir-se a outras propostas do conhecimento humano. Dizia ele: Bem longe deixamos a Igreja Romana, pela doutrina científica. Derrubamos todos os dogmas, colocando a Igreja Nacional, sob o ponto de vista ritual, em seus sacramentos, nos verdadeiros termos iniciais, fazendo ver que Jesus de Nazaré (...) deu provas que tinha vindo para executar a lei e não subvertê-la, com inovações.
Neste sentido, concluamos esta reflexão, desafiando-nos a entender corretamente esta frase do Nosso Santo Fundador: A Igreja Romana baseia-se em DOGMAS. A Igreja Brasileira não admite DOGMAS.




A ICAB ANTE OS DOGMAS - Parte II

+ Marcelo Pires


Devido a natureza e a delicadeza do tema, toda a crítica dogmática desenvolvida por Dom Carlos Duarte Costa – bispo de Maura e Santo Fundador da Igreja Brasileira (ICAB), convém seja cuidadosamente analisada e investigada. Isso se faz necessário, uma vez que a Instituição por ele codificada firma-se na essência mesma das verdades cristãs através da tradição católica.

Isto posto, aqui conjecturaremos, ainda que de forma simplória e resumida, porém com precisa imparcialidade, acerca das razões que o levaram a se opor aos dogmas católicos romanos.

Sob quais circunstâncias; como, quando e por quê o Santo Fundador da Igreja Brasileira, iniciou a sua aguda crítica direcionada a algumas das doutrinas católicas?

Traziam essas objeções uma proposta concretamente enovadora para a ICAB?

Em outras palavras, foi ele exitoso ao tentar opor-se (se é que foi esse realmente seu intento) às declarações dogmáticas? Era de fato o seu principal objetivo derrubá-las? Ou seria seu intúito oferecr uma nova interpretação a esses conceitos cristãos?

Se verdadeiramente ele intencionou renovar, isso ocorreu tão somente ao nível de meras mudanças conceituais? Ou mudanças na essência mesma da Verdade, à qual, postulada dogmaticamente, foi por ele diluída, através de um argumento cabal?

Antes de buscarmos respostas a estas questões, convém refletirmos um pouco sobre o significado mesmo do pensamento dogmático para a Igreja e quais as suas implicações em relação ao empreendimento instaurado pelo bispo de Maura.

Entendia São Carlos que a Religião deveria ser eminentemente prática e menos especulativa. Os valores morais estabelecidos pela Religião deveriam ser vistos como um meio para o ser humano livrar-se da condição de alienado, ou escravizado. Nem os dogmas nem o sentimento místico constituém de fato a fé cristã, mas esta é constituída pelos valores morais que, através do progresso científico, vão capacitando e elevando a humanidade a um grau maior de consciência de si mesmo.

Afirmava o bispo de Maura que: O Mundo Moderno põe de lado não somente o absurdo dos dogmas, mas a própria fé, para vivermos dentro do próprio Deus, como Cristo viveu a Vida do seu Pai Celestial.

Quando aquí ele aponta o desprezo do Mundo Moderno para com a fé, ele contudentemente expõe a fragilidade da fé dogmatizada. Dizia ele: O Papa, confunde a fé cristã com a falsidade de um cristianismo superficial, simulado, retórico, que não pode subsistir, porque sua era passou.

O conceito de Fé, em São Carlos, não deve ser tomado como uma imposição dogmática que o crente exterioriza através de profissões públicas de fé, como os Congressos Eucarísticos ou as grandes procissões, etc..A Fé, para o antístete brasileiro, é tão somente uma disposição natural do homem que o impulsiona ao Criador, uma vez que a racionalidade pura é incapaz de per si, em patrocinar esse contato íntimo do humano com o divno. A Fé, é a luz nas trevas da inteligência humana, afirmava ele.

Por outro lado, o auto conhecimento procurado pela humanidade se dá através de um processo dialético entre a Criatura ou Sujeito Pensante, em relação ao Criador, ou essência mesma da Verdade em si. Jamais esse auto conhecimento ocorre através de uma fé ou de uma conciência imposta. Estas, para ele, devem ser rejeitadas, uma vez que não são verdadeiras; mas falsas, impostas através da Força e do Terror para fundamentar conveniências próprias.

Nesse sentido, esse tipo de fé revelada e imposta não poderá ser admitida, uma vez que ela está disprovida de rigores científicos precisos.

Em certa medida, influenciado por A. Leterre, declara Dom Carlos: Conciência imposta não é conciência. Na com-ciência está Deus operando em nós, ilustrando-nos, porque na com-ciência está a Verdade e Deus é Verdade, e é esta com-ciência que nos faz descansar na Verdade e, pela Verdade, em Deus. A Fé da com-ciência em Deus, de que nos fala São Paulo aos Gálatas, quer homens livres. A Fé descrita, enaltece e alegra o Homem.

Em São Carlos, qualquer declaração dogmática disprovida de critérios científicos plausíveis e que intenta impor uma fé ou uma conciência através da força; por si mesma deve cair em descredito.

Para clarear esse raciocínio, de oposição a uma fé imposta, ele se fundamenta em outros pensadores cristãos: A conciência escraviza, embrutece e entristece o Homem. A Fé, diz Santo Tomaz de Aquino, é a corgem do espírito em atirar-se para a frente, certo de encontrar a Verdade. E Santo Agostinho diz, creio para compreender. Em São Luiz, rei de França, a Fé é a liberdade da Conciência. Swendeborg afirma que sem um fundo de Conhecimento, sumamente necessário, a Fé não pode existir. Enfaticamente conclue São Carlos: A Fé não se impõe por meio de procissões, congressos eucarístios, passeios de Nossa Senhora, etc..Não, a Fé é Amor.

Ao enfatizar a práxis religiosa como superior à sua mera especulação, o bispo de Maura aponta a São Francisco de Assís como o modelo perfeito de cristão que soube vivê-la e experimentá-la, com incomparável intensidade.

Dizia ele: Ninguém, como São Francisco, viveu o Evangelho de Cristo. Ele foi a perfeita encarnação da palavra evangélica, na sua simplicidade. O Porvorello encontrou o senso dos mandamentos divinos na ingênua profundeza do seu coração sublimado pelo amor. O amor ao seu Deus, ao seu Criador, era esse amor apaixonado de Cristo às criaturas. No homem, São Francisco amava o Cristo. Soube amar o Cristo e soube amar a Igreja Romana.

Pois bem, foi exatamente pelo fato de São Francisco encarnar em si a Praxis Evangélica em toda sua pureza, distanciado de toda especulação dogmática, que impulsionou São Carlos a elevá-lo a uma posição superior, até mesmo em relação à São Paulo, uma vez que este inspirou-se em uma teologia eminentemente dogmática.

Afirmava pois, o antístete brasileiro: Na verdade São Francisco é o verdadeiro Vir Evangelicus, Vir Catholicus. Ninguém, nem mesmo São Paulo, viveu do Evangelho de Cristo como São Francisco.

O desprezo às formulações impostas à crença, fê-lo concluir que os dogmas são o resultado da negação progressiva dos verdadeiros fundamentos do Cristiansimo. Isto significa que as fórmulas dogmáticas, jamais constituiram um resultado fidedigno à Verade Evangélica.

Segundo a sua compreensão, a Verdade Cristã é tal, que não se perde nem se dilue ao unir-se ao concreto, limitado e transitório; como se nos apresenta a doutrina da Encarnação.

A Verdade Verdadeira, como ele assim dizia, (pelo menos a Verdade que se dá a conhecer aos humanos) ocorre precisamente onde o eterno se une ao histórico, onde Deus se faz carne. Explicava ele: Deus assumiu as nossas carnes, preso no seio de uma mulher, bebendo o leite do amor humano: máxima nobreza na máxima miséria, descrevendo honra, pobreza e amor… Deus reveste-se da nossa humanidade: Concebido do Espírito Santo em Maria, Cristo é gerado da mais pura substância do sangue da Virgem, e a vida que dela recebe torna-O semelhante a nós. Nasceu no tempo, mas existe antes do tempo… Nele o Divino não absorve o Humano, e o Humano não diminue o Divino… E com essa união, o Verbo faz a Humanidade participar, real e intimamente, na sua Natureza Divina, abrindo-nos, destárte, o caminho que conduz ao céu.

Como claramente percebemos, a tese defendida por São Carlos é que a Verdade se dá no Concreto, Histórico e Particular. Dizia ele: O conceito histórico era alheio até os gregos e a toda a civilização antiga; suas conciências não se orientavam para o porvir, não tinha noção a não ser do movimento de um ciclo.

Sendo assim, para ele, a dogmatização de determinados conceitos teológicos, em nada revelam o cristiansimo jenuíno, autêntico e verdadeiro, uma vez que tais dogmas paralizam a evolução natural da própria Religião. Concluia pois, o bispo brasileiro: O Cristiansimo, pelo contrário, tem suas miras para o porvir, aguardando a Segunda vinda de Cristo, o Reino de Deus, o fim do mundo no qual tem ele seu sentido, sua razão de ser.

É pois, na humanidade histórica de Jesus Cristo, que nos é apresentada a Palavra doVerbo de Deus. Afirmava São Carlos: Cristo é o Verbo de Deus, isto é, a Palavra de Deus. É Deus falando por seu Cristo-Jesus.

O bispo de Maura afirmava ainda, que inicialmente, o Cristianimo surgiu sem dogmas, sem templos, sem culto, sem rituais, a não ser os mosáicos. A verdade dos dogmas, portanto, jamais poderá apresentar-se como a Verdade Eterna e Imutável, sem nenhum resquício de relatividade histórica.

Em São Carlos, a verdade dos dogmas só será apreciada, quando estes, em função da Palavra de Deus – que é a Verdade – confronte a própria Igreja com um requerimento de absoluta obediência ao genuíno e autêntico pensamento cristão. Isso ocorrendo, o dogma torna-se uma regra de juízo, ou um porto seguro para a vida e a missão da Igreja. Quando isto não ocorre, os dogma não são mais que meros documentos que dão testemunho, apenas, do passado histórico da Igreja.

Isto posto, poderemos perguntar: Combateu realmente São Carlos a todos os dogmas? Seguramente responderemos que não. E mais, nenhum dogma é válido no sentido de que possa identificar-se plenamente com a Palavra de Deus. Os dogmas são meras palavras humanas com as quais a Igreja pretende dar testemunho da Palavrade Deus. É tão somente nesse sentido que os dogmas formam parte da proclamação de fé da Igreja.

Como assinala o teólogo Karl Barth: Quem fala em dogmas é a Igreja do passado. Quem fala é veroz, tem autoridade, não fala sine Deo, mas é sempre só a Igreja…. E por isto, a Palavra de Deus vem a ser a palavra humana – muito importante, certamente, mas humana ao fim. A Palara de Deus está acima do dogma como o céu está acima da terra.

Por fim, Deus, através de Jesus Cristo, se fez conhecido e objeto da ação humana; e, de igual maneira, ainda que de uma forma derivada, também as Escrituras e os Sacramentos. Portanto, nada mais racional que a possibilidade de emitir um juízo acerca da validade de um ou outro dogma. Ainda que, tendo sempre presente, que tal juízo é nosso, e não de Deus.

As Escrituras são a medida que nos hão de server para julgarmos aos dogmas. A Ciência é a balança onde nos indicará com precisão o grau da sua veracidade. Todo e qualquer dogma que não se ajuste nas Sagradas Escrituras, deve ser tomado tão somente como um mero documento histórico, que serve apenas como um suporte para melhor refletirmos sobre a história pasada de Igreja . Em contra partida, todo doma que proclame essa mensagem, há de ser explicado, investigado e aclarado cientificamente, para produzir frutos no presente.

Os dogmas não surgem espontâneamente nem tão pouco são enviados dos altos cés por um anjo mensageiro. Os dogmas fazem parte do pensamento cristão, são forjados através de extensos anos de reflexão teológica, de costumes estabelecidos em relação à religiosidade, de oposição desencadeada às doutrinas que atacam o âmago mesmo da Religião da época e, principalmente, através de intrigas políticas.

Os dogmas da Igreja hão evoluído e variado de acordo com o decorrer dos tempos, mas isso nada tem que ver com sua veracidade ou carência dela, porque a Verdade não consiste em uma série de proposições invariáveis, senão que consiste na manifestação subjacente da Palavra, do Verbo de Deus, ante o indivíduo ou a coletividade em uma situação histórica e concreta.

Julgando pois, que agora poderemos entender mais claramente em que sentido, e com qual propósito, Dom Carlos Duarte se opós aos dogmas romanos, terminemos esta reflexão citando o próprio Fundador da ICAB:

A Ciência está dando pasos largos, para nos levar a um conhecimento melhor do que seja o Universo. Esses estudos nos levarão ao Conhecimento de Deus, pondo de lado o que está completamente errado. Ao acompanhar a Ciência em suas descobertas, a ICAB, desde o princípio, se colocou no verdadeiro caminho: Ela evoluirá sempre com a Ciência, partindo do princípio de que Deus é a própria Ciência, por que Ele é a Verdade e a Vida, e a Religião vive da Verdade, tem sua vida na Verdade. Todas as religiões que agem conciênciosamente (com ciência) nunca devem ser menosprezadas e estão à casta da Verade e Deus confunde-se com a Verdade, porque Ele é a Verdade. Toda e qualquer religião é caminho à Verdade. E Deus é o espírito vivificador da Natureza inteira. Deus dá a vida ao Universo inteiro, sem se confundir com ele.

Indaga pois, o bispo de Maura: E quem é Deus? Não podemos responder. Não sabemos definí-lo. Podemos dizer: Deus é aquilo que é. É uma coisa vaga. E como definir Deus se não somos capazes de dar uma definição exata de nós mesmos? Devemos partir do seguinte: A nossa inteligência é limitada. Mesmo quando o nosso corpo se desagregar do espírito, não teremos noção exata de Deus. Partamos deste príncipio: Todas a filosofias (dogmas) estão erradas, nas conjunturas que fazem de Deus. Que fazer? Adoremos a Deus em toda a Natureza. Assim agindo não estaremos errados. Estejamos unidos na prece e utilizemos-nos de tudo que conduz a Deus. Assim procedendo, estaremos agindo democraticamente, respeitando o modo de pensar dos outros. Uma vez que a verdadeira democracia é aquela que dá o Sol, a Terra, a Água, o Ar, a Natureza inteira, ao homem. Na Natureza não existem privilegiados.

7 comments:

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